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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Guerra Nas Estrelas - O Despertar da Força (O Melhor Capitulo da Saga ?)

  CONTEXTO

 
 O Curioso a respeito do novo Guerra nas Estrelas, que estreou semana passada nos Cinemas, é que sua maior qualidade também é seu maior defeito.

Quando a Disney comprou a Lucas Film há alguns anos atrás o que não faltou foram temores dos fãs de que a Multinacional infantilizasse os personagens e explorassem o padrão Disney. Temores idiotas, claro, uma vez que o próprio criador George Lucas já tinha conseguido estragar até os primeiros filmes, lançando no mercado apenas as versões modificadas da obra, sem falar da ultima trilogia, recheada de efeitos digitais equivocados. 

E a Disney também sempre mantém as Empresas adquiridas como algo a parte, vide a Pixar onde o padrão de qualidade é superior a qualquer animação da "Dona". Ou mesmo a Marvel,, que embora cada vez mais medíocre, isso já se arrasta desde os anos 90. A Disney apenas deu um sopro de vitalidade à marca, que mesmo com produções de gosto discutível é inegável sucesso de público em suas produções para o Cinema.Provavelmente vai ter gente reclamando que o filme tem um lado Disney muito forte. Essas pessoas possivelmente não devem ter assistido O Retorno de Jedi ou a ameaça Fantasma. Aquilo sim tem o pior que a Disney pode oferecer. Mas o fato dela ter comprado a série vai gerar essa falsa impressão.

Quando Lucas anunciou, em meados da década de 90 que voltaria a produzir filmes da sua franquia a Internet ainda engatinhava, mas mesmo assim dava para sentir a comoção dos fãs. O resultado porém foi desastroso, personagens infantilizados (algo que ele já ensaiava anteriormente em O Retorno de Jedi), grandes astros mal dirigidos e desorientados (Natalie Portman, Ewan McGreggor, Liam Nielsen na época em que seu nome associado numa produção comercial desse porte ainda causava estranheza) e efeitos digitais e personagens inteiramente feitos em computadores que deixavam as coisas mais falsas do que deveriam.

Isso tudo fora o roteiro burocrático e pomposo, cheio de alegorias políticas rasas enfeitadas com frases de efeito que deixavam corados até leitores de livros de auto ajuda. De qualquer forma os filmes foram bem de bilheteira, fruto da história de sucesso da franquia.

George Lucas é um cara estranho. Ao contrario do amigo Coppola (alias, uma cena rapida do sol com os Tie fighters me lembrou Apocalipse Now) que até hoje se arrisca em produções de qualidade duvidosa sempre disse que gostaria de arriscar, fazer filmes pessoais... Partindo de um cara que tinha o Mundo em suas mãos só podemos taxa-lo como um mentiroso, pois se há alguém por ai que poderia filmar o que quiser, esse alguém é o George Lucas. E tem também o lance da teimosia, mexendo demais nos antigos filmes, não dando ouvido a ninguém. Não é possível que nenhum amigo tenha o alertado do desastre do Jar Jar Binks mas ele o colocou no primeiro filme e notem que mesmo das enxurradas de criticas negativas ele nunca se desculpou por isso e mesmo tirando o personagem dos filmes posteriores, claramente deixou o personagem em pontas como se dissesse "eu estou certo" quando o certo seria ter limado de vez da saga.

E eis que a Disney compra a Lucas Film (detentora também do Indiana Jones) e chama para comandar o novo filme J.J. Abrams (Lost) que já tinha demonstrado total devoção por filmes dos anos 80 encabeçada por Spilberg em Super 8, uma singela homenagem ao gênero tão comum naquela década (em especial Goonies). JJ também conseguiu o feito de transformar a série Jornada nas Estrelas, um anti-Guerra nas Estrelas por natureza num Guerra nas Estrelas. A escolha certa sem duvidas.

O DESPERTAR DA FORÇA

Dado o anuncio, JJ Abrams convocou para se juntar ao novo elenco os antigos protagonistas Harrison Ford, Mark Hamill e Carrie Fisher, sem contar os interpretes de C3P0 (Anthony Daniels) e Chewbacca (Peter Mayhem). E já de cara disse que iria trabalhar com efeitos tradicionais, utilizando maquetes e cenários reais juntamente com os novos efeitos. E que a historia se passaria por volta de 30 anos depois de "O Retorno de Jedi", dada a idade dos antigos protagonistas. De resto pouca coisa se sabia, um ponto positivo em tempos onde até os trailers entregam tudo.

Em algum tempo nestes últimos 30 anos, Luke Skywalker (Mark Hamill) disposto a formar uma nova ordem Jedi, treina jovens com grande  potencial à força. Um aluno cometeu algum ato não muito explicado e foi seduzido para o Lado Negro da Força. Sentindo-se responsável pelo ato do tal aluno Luke infingiu um auto-exílio. Seu paradeiro é desconhecido. Tanto a antiga Rebelião, agora Resistência, quanto a Primeira Ordem (antigo Império) possuem interesses em encontra-lo.

O cenário é mais ou menos esse. Para aqueles que desejam se aprofundar no que aconteceu nesses últimos 30 anos tem os Livros (infelizmente o sucesso Marcas da Guerra que se passa imediatamente apos a destruição da Estrela da Morte de Endor é fraquinho, personagens sem brilho e escrito porcamente - ideal para quem gosta de livros do Dan Brown ou Young Adults, que acharão um prato suculento). Mas o Império está ai, firme e forte, com outro nome. Certamente quem acha isso absurdo pode ser aquele eleitor coxinha que acredita piamente que basta tirar a Dilma (ou Lula) do poder e flores crescerão no asfalto. Mas até a historia do Brasil mostra que as coisas não são assim tão preto no branco.

O filme começa com Poe Dameron (Oscar Isaac, excelente) um piloto da Resistência recebendo um mapa que contem a suposta localização de Luke. O Planeta é Jakku (sim, sério) e como não poderia deixar de ser, lembra muito o desértico Tatooine do primeiro filme. E se no primeiro filme tínhamos o grande Alec Guiness como Obi Wan Kenobi, agora é a vez de Max Von Sydow fazer uma ponta e dar mais credibilidade à obra. Não precisa nem Han Solo e Chewbacca aparecerem para sabermos que estamos em Casa.


Se George Lucas não consegue arrancar uma boa interpretação de atores consagrados, J.J. Abrams consegue nesse primeiro ato passar toda a emoção necessária para um Stormtropper mesmo usando uma máscara que esconde sua face. Os closes, os gestos mostram que o mesmo está perturbado com a barbárie que está envolvido. Ponto positivo. E logo nessa cena surge sem rodeios o novo vilão, assim como no primeiro filme, onde Darth Vader já aparece ameaçador. O roteiro dá dicas do que já foi desenvolvido no Universo Expandido, os Stormtroppers não são todos clones, isso só foi usado para as Guerras Clônicas mas muita gente pensa erroneamente que virou Lei. Em um dialogo do filme é questionado se deverão ser usados os clones ou os outros.

Logo  a nova heroína da franquia aparece, também usando uma mascara. Esta logo descartada. Sinais dos tempos, temos a necessidade de uma Mulher forte como protagonista e não mais uma princesa em perigo. Porém isso não acrescenta e nem atrapalha, foi apenas uma constatação. O filme não chega a ser Feminista (palavra que ganhou contornos chatos nesse mundo politicamente correto). Há piadas sobre essa condição no filme, logo nesse começo quando outro protagonista, Finn a pega pela mão e foge numa cena de perigo e ela contesta que não precisa que ninguém a ajude. A necessidade de mostrar uma mulher forte que não precisa de ajuda de nenhum Homem porém pode deixar os mais céticos um pouco inverossímil uma sequencia chave final onde a mesma luta de igual para igual com o Vilão (provavelmente) mais experiente. Infelizmente a maioria das pessoas estão a fim de ver um vilão foda e não saberão analisar os nuances do roteiro.

 O Vilão é muito bem interpretado pelo freak Adam Drive. Ameaçador e inseguro, demonstra fragilidade e loucura em doses certas. Me incomodaram as cenas onde ele se descontrola por que as coisas não acontecem como ele planeja e destroi tudo a sua frente soando como uma sátira ao melhor estilo "Spaceballs" (para ficar na referência mais obvia). Claro que isso é para mostrar a imaturidade do "filhinho de papai", mas o clima que a cena foi desenvolvida me fez ver por esse lado.

Aliás o vilão é muito bem definido em suas nuances. Se os fãs da séries se decepcionaram com um Anakin Skywalker aquém de suas capacidades no episódios 1-3 (note que ele quase não usa a força, ficando mais nas lutas com sabres de luz e demonstrando ser um exímio piloto. Quando você pensa que ele vai tocar o horror  no final do episódio 3 ele sai apenas dando espadadas nos outros), o novo vilão Kylo Ren aparece de cara parando um tiro de blaster (Abrams é fã o suficiente da saga para entender que era isso que faltava na ultima trilogia). Porém, Kylo é demonstrado posteriormente como um vilão inseguro e cheio de constrastes,. Totalmente imaturo, usa desnecessariamente uma máscara para poder parecer Darth Vader (até na voz). Mas toda vez que está sem a mesma se mostra fragilizado.

Podem notar que todas as vezes que está sem a mesma ele não é tão ameaçador. E ele sabe disso. Esse aspecto psicológico é desenvolvido magistralmente por Abrams em duas sequências sublimes: aquela em que seu Pai o rebaixa dizendo "tire esse máscara, você não precisa disso" e a cena do duelo final onde sua arrogância é supreendida numa das melhores lutas da saga, onde ao novamente ficar sem a mascara, leva um banho de realidade de Rey (e se ela for da família Skywalker é provavelmente a mais forte da linhagem... Darth Vader ficaria orgulhoso. Fãs machistas vão ter urticária)


E se Abrams decidiu filmar tudo com mais maquetes e efeitos mais tradicionais não deixa de ser curioso que justamente o Lider Supremo Snoke, personagem totalmente digital, seja o ponto mais fraco dos efeitos. Snoke por sua vez interpretado pelo Andy Serkis, que está virando uma espécie de Johnny Depp digital.

Abrams também faz uma nada sutil referência ao nazismo naquela que pode ser a mais descartáveis das cenas do novo filme. Constrangedora, com Domhnall Gleeson encarnando o pior estilo de interpretação a lá Christoph Waltz.

O Público quer ver os protagonistas antigos e JJ Abrams vai entregando isso em doses homeopáticas. E mesmo a canastrice de Harrison Ford e Carrie Fisher não deixam de emocionar. Infelizmente um dos pontos fracos do filme é o modo onde a Millennium Falcon é introduzida e logo depois Han Solo e Chewbacca. A situação é forçada e sem muita criatividade, onde Abrams parece apostar apenas na vontade dos fãs de ver o trio (sim a Millennium é uma personagem tão consistente como os demais) na tela grande. Ademais, as piadas e diálogos rápidos dessa sequência funcionam bem. De qualquer forma o roteiro explica essa coincidência de Han Solo e Chewbacca reencontrarem a nave em um diálogo posterior ("se nos a localizamos tão rapido a Primeira Ordem também a fará").

Uma boa sacada do roteiro a de trazer Han Solo e Chewie como contrabandistas novamente. Afinal, pau que nasce torto... E Han Solo deve ter sido muito filho da puta nesses últimos anos afinal.

A musica de John Williams é usada de forma esperta (a cena do capacete, por exemplo). Logo depois o sabre de Darth Vader/Luke aparece misteriosamente, em uma cena que lembra aquela do Imperio Contra Ataca quando Luke em uma alucinação/pesadelo encontra Darth Vader que se revela ser o proprio Luke. Não sabemos muito sobre contexto em que esse sabre foi guardado e quem é realmente a personagem de Lupita Nyong'o (que faz rima com os demais episódios ocupando o lugar de Yoda) . Isso deve ser desenvolvido, se não nos próximos capítulos , em livros e HQs.


 O incomodo de Rey ser filha do Luke (ou quem sabe sobrinha) também deixa a situação forçada. Algo similar do filme "O Espetacular Homem Aranha" onde todos os personagens se conectam uns com os outros de maneira absurda. E se em Nova Iorque isso parece preguiça demais do roteiro, imagina numa Galáxia inteira (por mais distante que se encontre). De qualquer forma, Guerra nas Estrelas no Cinema é a saga da família Skywalker e no final isso pode fazer todo o sentido. O filme tem muitas questões em aberto e não quer dizer que apenas pelo fato de você não entender é que ele seja ruim.

Em uma primeira analise o roteiro pode até parecer preguiçoso por evocar demais os episódios IV e V. Mas Abrams, além de bom diretor e roteirista, foi esperto o bastante para chamar Lawrence Kasdaw (O Império contra ataca, Indiana Jones) para polir o roteiro. O filme funciona bem enquanto citações dos filmes clássicos, os diálogos espertos, as piadas distribuídas com todos os personagens e não em um específico, os efeitos especiais sem exageros, a direção de arte, mas se no começo as várias rimas (tão presentes na série) são interessantes, aos poucos vai fazendo o filme parecer uma espécie de remake do primeiro. 

No final tudo isso funciona. Os fãs da série em sua maioria tem aprovado. Aqueles familiarizados apenas com os filmes, que não conhecem a fundo o Universo Expandido terão um pouco mais de dificuldade para acompanhar. E também  pessoa que nunca viu um filme da série na vida não terá problema em encarar esse como o primeiro da saga. De qualquer forma, porra Abrams, precisava mesmo de uma outra Estrela da Morte !

Isso não torna o filme ruim, apenas tira um pouco da Força do mesmo e que mesmo assim é possivelmente o melhor capítulo da saga (particularmente prefiro O Império contra Ataca, mas não sei realmente dizer se o aspecto nostálgico é mais forte nesse sentido). Os novos fãs tem sorte.

 NOTA 8

O QUE ESPERAR

Outra curiosidade é que sempre achei os últimos 3 filmes da trilogia limitados pois todos sabiam o que iria acontecer, os personagens eram limitados, todos sabiam que Anakin tinha que se transformar no Darth Vader, que sua amada teria que morrer, os gêmeos separados, Yoda e Obi Wan exilados... Na nova trilogia tudo pode acontecer mas esse primeiro filme ficou por demais amarrado na trilogia clássica. O segundo tem tudo para ser melhor nesse sentido. Só espero que em determinado momento o Vilão Kylo Ren não anuncie "Luke, eu sou o seu filho".